A fundação da REDSurdos (Rede Latino-Americana de Surdos) é resultado de encontros de surdos e ouvintes, ambos usuários da LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) em associações de surdos e outros espaços sociais. Com o estreitamento desse debate interno e a partir do fortalecimento dessa troca de ideias e ideais, em 18 de novembro de 2017, parte desse grupo se reuniu presencialmente no Rio de Janeiro (Brasil) com o objetivo de delinear metas e estratégias no alcance de suas demandas.
Em 2018, a partir da realização do I Congresso Internacional da REDSurdos, surdos do Chile, Paraguai, Equador e Peru passaram a integrar o movimento REDSurdos. No ano seguinte, os laços com a comunidade moçambicana de surdos foram estreitados e marcados com a realização do primeiro Colóquio de Surdos fora de território brasileiro, em Maputo.
Dentre suas prioridades, o movimento REDSurdos visa o fortalecimento da organização social de surdos, o intercâmbio de experiências – dentro e fora das instituições universitárias - bem como o estabelecimento de ações afirmativas que efetivem a inclusão participativa dos membros desse grupo social, através do agenciamento e parcerias entre diferentes instituições educacionais, culturais, desportivas ou de formação e aprimoramento profissional.
A REDSurdos entende que a legítima inclusão de surdos nos espaços sociais só é possível a partir do efetivo e pleno exercício da cidadania em seu país. Como membros da REDSurdos, acreditamos que somente através da apropriação de seus direitos, as pessoas surdas podem acessar os bens culturais produzidos em seu país. Entretanto, ainda existe um grande hiato entre o discurso e a prática para que os direitos de pessoas surdas se tornem uma realidade, em países da América Latina e África Lusófona. Desse modo, a experiência cotidiana das pessoas surdas ainda reflete a vida à margem da sociedade em que vivem. O precário funcionamento do sistema educacional, dificulta ainda mais o acesso ao mercado de trabalho, ao esporte, às artes, à pesquisa acadêmica e a uma participação mais efetiva na sociedade a que pertencem.
Assim, a partir das discussões que a REDSurdos instiga com suas atividades, temos a oportunidade de refletir e pôr em questão as estratégias ainda usadas para que as pessoas surdas sejam mantidas fora das instâncias que definem as regras no campo educacional, econômico e cultural. Essa prática opressora, mantém os surdos silenciados - sem trocadilho - e apartados do diálogo na esfera das políticas linguísticas que devem ser adotadas para que a inclusão seja uma realidade.
Urge a demanda da formação de professores e pesquisadores surdos para atuar na esfera educacional junto a crianças e jovens surdos. Urge a demanda da formação com qualidade de tradutores-intérpretes de Língua de Sinais (LS). Urge a demanda de profissionais surdos na área da saúde. Urge a demanda da compreensão das línguas de sinais como um idioma, uma língua legítima das pessoas surdas que em nada deve às línguas áudio-orais em termos de sua constituição linguística. Urge a demanda dos familiares ouvintes aprenderem a língua de sinais para se comunicar com seus filhos surdos. Urge a demanda de professores ouvintes desenvolverem a fluência na língua de seus alunos surdos. Por fim, urge a demanda da construção de sociedades mais justas e equitativas, que promovam aos surdos uma vida mais digna, que respeite sua forma de estar no mundo, sua peculiaridade e não uma deficiência.
O movimento REDSurdos acredita que tais urgências refletem um sentido mais apropriado do conceito de inclusão, que não pode mais ser entendido como uma espécie de benesse adaptativa à vida social, e sim como uma postura ética frente à qualquer diferença entre nós, humanos, seja por questões ideológicas, linguísticas, religiosas, culturais, econômicas ou educacionais.
O mundo atual carece de uma retratação não só aos surdos, mas também aos surdocegos, cegos e outros grupos sociais marginalizados. Entretanto, para que práticas afirmativas e equânimes sejam implementadas é necessária a participação de membros desses grupos sociais não mais como exemplares inanimados, usados para justificar a existência de instituições segregadoras que se mantém através da prestação de um desserviço silenciador, mas sim de uma relação na qual surdos e ouvintes possam ser parceiros profissionais. A REDSurdos entende que os surdos não devem mais ser entendidos à luz da classificação clínico-pedagógica que lhes foi imputada, mas sim à luz de práticas que contemplem os aspectos históricos, socioculturais e lingüísticos tão caros às comunidades de surdos em todo o mundo.
A partir de 2025, após um breve período de paralisação de suas atividades para repensar novos caminhos, a REDSurdos vem sendo redesenhada a fim de agregar os países lusófonos do continente africano. Assim, passa a ser denominada de Rede Latino-Americana e Afro-Lusófona de Surdos, de modo a agregar também nossas relações com as comunidades de surdos moçambicanos.
É relevante ressaltar que compreendemos por "América Latina" os países do território centro e sul-americano cujo idioma oficial é o espanhol (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela), o francês (Haiti e Guiana Francesa) ou o português (Brasil). Enquanto por "África Lusófona" os países do território americano cujo idioma oficial é o português (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe).
Alexandra Ferreira de Paiva
Ana Regina e Sousa Campello
Alexandre Carlos da Silva
Bruno Ramos da Silva
Carlos Alberto L’Astorina
Claudia Jacob
Eurico Cabral
Jhonatas Narciso
José Airton Rocha Cabral
Luiz Carlos Souza
Luiz Guilherme Calixto
Marcelo Luiz Gomes de Almeida
Maria Izabel dos Santos Garcia
Nívea Maria Ximenes de Matos
Rebeca Garcia Cabral
Renato Moris Espinar
Tairini de Souza Barros
Verônica Ellen Figueira
Wagner Cabral dos Santos
Wilson Santos Silva